“Viajar desta forma simples, fez-nos perceber que Portugal é muito maior do que pensamos. Que as diferenças entre regiões esbarram na amabilidade das pessoas. Que é bonito demais!!! Melhor que uma fotografia…”
Texto: P. Guerra dos Santos
Fotos: Rita e João Candeias
Vila Nova de Foz Côa. Vista para o Douro.
Secção 8.6 da Rede Nacional de Cicloturismo.
João e Rita, 47 e 42 anos respectivamente, casaram no passado mês de Agosto na margem sul do Estuário do Tejo. Já há vários anos que ansiavam por uma experiência que melhor lhes desse a conhecer a região do norte interior, as suas gentes, a sua cultura e claro, uma gastronomia sem rival. Como tal tomaram uma decisão que, sabem-no agora, lhes iria mudar a forma de olhar para o país: a lua-de-mel tinha de ser uma viagem em bicicleta.
E para a fazer escolheram algumas das secções da Rede Nacional de Cicloturismo que os levou a pedalar pela Beira Alta e Parque Natural do Douro Internacional.
Próximo de Vilar Formoso, em estrada fronteiriça.
Secção 10.8 da Rede Nacional de Cicloturismo.
Tal como acontece com muitos de nós, João e Rita passaram anos sem pegar numa bicicleta. Da formação técnica à aposta na carreira profissional, pouco tempo sobrava para as pedaladas. Quando recentemente voltaram a “sentir o vento na cara” isso despertou neles a sensação de liberdade que tão bem caracteriza a utilização deste veículo como meio de deslocação e de viagem. Foi esse o mote para uma decisão arrojada e inédita dentro do seu círculo de familiares e amigos. “Queríamos fazer algo fora-da-caixa e fugir aos tradicionais sítios onde vão os recém-casados e, acima de tudo, experimentar viajar de comboio, coisa que não fazíamos há anos” refere João, técnico ambiental. “Queríamos também fugir aos destinos turisticamente massificados e usufruir em pleno da natureza” remata Rita, bióloga marinha de profissão.
Por isso não esperaram muito tempo. Aproveitaram logo o primeiro dia de casados para
preparar as suas bicicletas de gravel, ambas equipadas para a prática de bike packing, uma
forma de viajar de bicicleta com a menor carga possível, tanto em asfalto como em terra batida. E arrancaram logo no dia seguinte. Foram 5 dias completos de longas e relaxantes pedaladas pelo norte interior de Portugal, com início no Sabugal. Mais 2 dias, se contarmos com o arranque e o regresso a casa, em que pedalaram de e para a estação de comboios.
Os veículos equipados para uma semana a pedal, já em plena lua-de-mel.
Vamos às pedaladas.
Eram 6:30h da manhã quando arrancaram de casa a pedalar até ao cais fluvial em Almada, onde apanharam o cacilheiro para o Terreiro do Paço. Daí pedalaram pela ciclovia ribeirinha da capital até à Gare do Oriente. Uma vez aqui apanharam o comboio InterCidades com destino à Guarda, via Beira Baixa. “Ficámos agradavelmente surpreendidos com as ciclovias de Lisboa bem como com a facilidade de transporte da bicicleta em local próprio dentro do comboio, coisa que nunca tínhamos experimentado” afirma este ex-praticante de caça submarina. Saíram na estação antes da Guarda e daí pedalaram até ao Sabugal, de onde arrancariam no dia seguinte, ainda mais para norte.
Ecopista do Sabor, a descer para o Pocinho. Rio Douro em fundo.
Secção 8.6 da Rede Nacional de Cicloturismo.
Para o passeio em si, levaram os tracks GPS das secções beirãs da Ecovia 10 entre o Sabugal e Freixo de Espada à Cinta e daí os da Ecovia 8 até Vila Nova de Foz Côa. As etapas da viagem foram as seguintes:
Dia 1 - Saída de casa a pedalar até ao cais fluvial da Cacilhas. Pedalada do Terreiro do Paço até à Gare do Oriente e viagem de comboio de Lisboa até próximo da Guarda. 20 km a pedalar até ao Sabugal.
Dia 2 - Sabugal a Vilar Formoso. 64 km.
Dia 3 - Vilar Formoso a Almeida. 40 km.
Dia 4 - Almeida a Figueira de Castelo Rodrigo. 45 km.
Dia 5 - Figueira de Castelo Rodrigo a Freixo de Espada à Cinta. 45 km.
Dia 6 - Freixo de Espada à Cinta a Vila Nova de Foz Côa, com passagem por Torre de Moncorvo ao longo da Ecopista do Sabor. 67 km.
Ao sétimo dia desceram de novo ao Pocinho e aí apanharam o comboio em direcção ao Porto. O regresso a casa foi também uma parte interessante de descoberta nesta viagem, tanto pelas paisagens vinhateiras do Douro como pelo facto de pela primeira vez terem andado no comboio histórico Miradouro, aquele que foi recentemente recuperado e colocado ao serviço de passageiros com capacidade para transportar 12 bicicletas. Do Porto seguiram para Lisboa, também de comboio.
Descida para Barca d'Álva. Rio Águeda e Parque Natural do Douro Internacional em fundo. Secção 10.11 da Rede Nacional de Cicloturismo.
O relato
"Foi assim a nossa lua-de-mel, 300 km pelas beiras, no profundo interior do nosso país"
Do passeio fica o relato de plena satisfação retirado da página de Facebook do João: “Por vezes basta uma nova perspectiva de olhares para as coisas que te rodeiam, para perceberes que ainda tens muito para ver, que o mundo lá fora é ainda maior do que tu pensavas, que a vida ainda te reserva muitas coisas boas para apreciares. Foi assim a nossa lua de mel, 300 km pelas Beiras, no profundo interior do nosso país”.
Estrada de Candedo, na subida para Freixo de Espada à Cinta.
Secção 10.11 da Rede Nacional de Cicloturismo.
O que eles adoraram (mesmo com alguns dissabores):
- As estradas com pouco trânsito. “Sem exagero, acho que nestes 6 dias nos cruzámos com duas dúzias de carros, se tanto”, refere João.
- Não utilizar o carro. Adoraram viajar de comboio com a bicicleta, tanto pela Linha da Beira
Baixa (ao longo do Tejo) como pela Linha do Douro.
- O Parque Natural do Douro Internacional, em particular a secção 10.11 que depois de Barca D’Alva segue pela Estrada de Candedo por entre penhascos xistosos e ribeiras com vegetação luxuriante.
- A antiga Linha do Sabor, agora reconvertida em ecopista, entre Carviçais e o Pocinho. Nem os 4 furos que aí tiveram, no espaço de uma hora, lhes tirou o fascínio pela beleza da região.
- A curta incursão a Espanha, à pacata Aldeia La Bouza.
- As conversas inesperadas com as gentes locais, incluindo em portunhol.
- A gastronomia, claro!
- A reacção dos amigos e família que, curiosos, acompanhavam à distância as pedaladas.
Rita e João, do casamento à lua-de-mel em bicicleta.
Alguns dias depois desta viagem pegaram na filhota e fizeram mais 4 dias a pedalar, desta vez pela Ecopista do Dão. Ida-e-volta entre Santa Comba-Dão e Viseu, nas calmas.
Adoraram !!!
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Espetacular. Falta onde ficar e oficinas para reparações/manutenção.