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Foto do escritorPaulo Guerra dos Santos

Pedalar pela Beira Interior.

Atualizado: 17 de ago. de 2023

Pedalámos em duas etapas da Guarda à Covilhã, passando pelo Sabugal e Serra da Malcata, num fim-de-semana em que as temperaturas atingiram os 38º. E adorámos !!!


Fotos: P. Guerra dos Santos e José Carlos


Secção 4.08 da Rede Nacional de Cicloturismo, próximo de Balsemão.

A ideia era percorrer algumas das secções da Rede Nacional de Cicloturismo para actualizar os tracks GPS, validar outros novos e captar algumas fotos para colocar no Road Book 2022. Mas acabámos por subir à Serra da Malcata. Com uma pequena ajuda, há que confessar.


Vamos por partes.


Arrancámos da (moderna) estação de comboios da Guarda, tendo seguido alguns quilómetros praticamente a acompanhar a Linha da Beira Baixa. Sendo esta zona a parte baixa da mais alta cidade portuguesa, o tráfego é reduzido ao longo destas estradas serranas que ligam pequenas aldeias e zonas agrícolas.


Caminho agrícola murado por blocos de granito.


Depois de passar por A-de-Moura saímos do asfalto e desviamos por um caminho agrícola que nos levou a pedalar por um dos mais belos afloramentos de maciços graníticos onde se avistam centenas de enormes penedos (os calhaus cá do sítio), alguns dos tamanho de prédios. Desmontámos a subimos a alguns deles pois, para além do gozo de os escalar, daqui avista-se a lado sul da Serra da Estrela.


Afloramentos graníticos. Secção 4.08 da Rede Nacional de Cicloturismo.


Seguimos viagem e depois de passar por diversas aldeias e povoados (tomámos café numa delas) voltamos à terra batida, desta vez para acompanhar uma ribeira. Ficámos maravilhados com a quantidade de borboletas, com diferentes cores e tamanhos, que por aqui se avistam. Libélulas também não são raras e, claro, lagartixas de tamanho considerável que fogem ao ouvir o rolar das bicicletas.


40 km depois e sempre a pedalar em cotas que rondam os 800/900 metros, com algumas subidas e descidas de +/- 100m, chegamos ao Sabugal.

Castelo do Sabugal e Rio Côa.


Dizem que o Sabugal é cidade, mas não parece. Ao fim-de-semana está quase tudo fechado e nem o bar da praia fluvial escapa è desertificação humana a que grande parte do interior de Portugal Continental está sujeita. Por isso mesmo não perdemos tempo aqui e seguimos logo viagem pela secção 4.09, mas queremos fazer um pequeno e ambicioso desvio: subir aos 1072 metros, um dos pontos mais altos da Serra da Malcata.


Rio Côa, Sabugal.


Saímos do Sabugal a pedalar pelas zonas agrícolas junto ao Côa. Cruzamos o rio atravessando um estreito pontão, com menos de 1 metro de largura. Por isso mesmo, para evitar cair ao rio, desmontamos a bicicleta e atravessamos a pé.

Pontão sobre o Rio Côa.


Entramos de novo em asfalto e seguimos até à aldeia que dá o nome à serra onde queremos ir, a Malcata. Por ser hora de almoço procuramos uma tasca que nos sirva algo para repor energias. E encontrámos a Tasca do Manel, bem no centro da aldeia. Não serve refeições ao domingo, mas por terem feito caldo verde no dia anterior e cozido pão, improvisaram-nos a mesa que se vê na foto abaixo. E que mesa! Queijo curado pelos próprios e pão cozido a lenha. Que bem que se come nas beiras.


Tasca do Manel, Malcata.


E como em qualquer outra boa tasca deste país, mete-se conversa com os locais.

Depois de dois dedos de conversa - e porque já tínhamos 50 kms nos joelhos e algumas médias no bucho - em jeito de desabafo digo "Se alguém tivesse uma carrinha de caixa aberta, pagávamos para nos levar lá acima (Serra da Malcata) mais às nossas bicicletas". A resposta foi imediata, vinda de uma das mesas ao nosso lado: "Com muito gosto vos levo lá, mas sou eu que convido". O senhor Abílio (e o Edgar), homens da terra, fizeram questão de nos oferecer esta boleia e ainda mostrar alguns dos segredos da serra. Bem hajam.


Nota do autor:

Não fazemos estas viagens para bater recordes ou fazer quilómetros. Viajamos em bicicleta pelo prazer da viagem em si, de conhecer diferentes locais e gentes. E de ter estas pequenas e agradáveis surpresas da simpatia de estranhos com quem acabámos de meter conversa. É assim Portugal e são assim os Portugueses. E que continuem a sê-lo por muitos séculos.


Baloiço da Machoca, Serra da Malcata, aos 1072 metros de altitude.


Já no posto de vigia da Machoca, despedimo-nos destes dois beirões agradecendo a simpatia e seguimos agora pelos largos estradões de terra e gravilha fina que servem de corta-fogo, ao longo do cume da serra, e de acesso aos parques eólicos que por aqui abundam. Nesta linha que separa a Beira Alta da Beira Baixa a vegetação arbórea, apesar de plantada pelo homem, é típica de montanha e a estas cotas (a rondar os 1000 metros) não há eucaliptos. Que bela visão !


Estradão corta-fogo no cume da Serra da Malcata.


 

Crowdfunding

"COLOCAR OS AÇORES NA REDE NACIONAL DE CICLOTURISMO"


Queremos identificar rotas na Ilha de São Miguel e assim englobar pela primeira vez os arquipélagos na Rede Nacional de Cicloturismo.


E para tal precisamos da sua ajuda !!!

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Toda a informação sobre o campanha de angariação de fundos, em português, aqui »

*All the information about the crowdfunding campaign, in english, here »

 

Alguns quilómetros à frente saímos da terra e entramos na estrada de asfalto que, vertiginosamente e aos "ésses", nos leva até lá baixo, à Albufeira da Barragem de Meimão. São mais de 3 km com 10% de inclinação e um desnível de 300 metros em altitude. Tirando os cuidados na condução e na travagem, sentir o vento na cara foi gratificante.


Acesso aos estradões da Albufeira da Barragem de Meimoa.


Já lá em baixo, depois da aldeia de Meimão (não confundir com Meimoa), aproximamo-nos da albufeira. Esta é, de todas as que conheço, das poucas em que toda a albufeira é ladeada por estradões junto à margem, o que torna estes 7 km de ziquezagues num belo e relaxante passeio, com muita sombra. Pena este ano ser de seca e a cota da albufeira estar bem abaixo do normal.



Vida na aldeia

"Meimoa é um daqueles locais pelos quais, inesperadamente, nos apaixonamos"

Depois de passarmos pela praia fluvial junto à barragem, descemos pelo vale da Ribeira de Meimoa até à aldeia com o mesmo nome, onde pernoitámos.


Meimoa é uma daqueles locais pelos quais, inesperadamente, nos apaixonamos. Esta pequena aldeia beirã, em plena rota das aldeias históricas, tem praia fluvial com bar, tem restaurantes e alojamentos locais, rotas pedestres e para BTT e, acima de tudo, tem gente! Ladeada pela Ribeira de Meimão, cercada por zonas agrícolas e serras, faz-nos desejar que a vida quotidiana fosse isto: tranquilidade e, ao mesmo tempo, actividade humana.

Aproveitámos, depois de mais de 80 km a pedalar, para dar um mergulho de final da tarde nestes cerca de 1.30 metros de altura de água. Água que, para ribeira, nem estava assim tão fria.


Praia Fluvial de Meimoa e bar.

No dia seguinte arrancamos com destino à Covilhã. É um passeio curto, com 40 km, e segue grande parte a acompanhar a Ribeira de Meimoa. Zonas agrícolas, serras e pacatas aldeias são o nosso cenário.

Secção 4.10a da Rede Nacional de Cicloturismo, próximo de Benquerença.


Depois da aldeia de Escarigo vem a única grande subida do dia e logo no topo temos o primeira avistamento para a Serra da Estrela e para a cidade da Covilhã.

Estradão próximo de Peraboa.


Para evitar as estradas nacionais e o tráfego rodoviário pesado, seguimos até à estação de comboios da Covilhã por entre campos de cultivo de cereal. Já não via um desta dimensão há alguns anos. Sinais de mudanças que vêm a caminho, certamente.


 

Rede Nacional de Cicloturismo

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O passeio termina com a viagem de regresso à Guarda em comboio da CP. Este troço da Linha da Beira Baixa segue primeiro pelo sopé da Serra da Estrela e depois pelo belíssimo Vale da Benespera. São 50 minutos de passeio turístico. Pena não dar para abrir as janelas e meter a cabeça de fora.


Campo de cultivo de cereal, próximo da Covilhã.


---- FIM ----

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