Ecovia do Rio Leça - Projecto de recuperação ambiental em Leça do Balio
- Paulo Guerra dos Santos
- há 6 dias
- 4 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
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Aquele que é considerado um dos rios mais poluídos da Europa (ainda que com um índice de contaminação substancialmente menor que há umas décadas) está a ser alvo de uma requalificação no seu leito de cheia e nas suas margens. Os quatro municípios atravessados por estes cerca de 48 km de linha de água estão a unir esforços e comprometeram-se a criar uma ecovia da sua nascente até ao Porto de Leixões, onde as águas do rio se juntam às do Atlântico e até já por várias ocasiões se avistaram golfinhos.
E a cereja no topo do bolo? Recentemente, voltou a haver comboios para lá chegar !
Texto e fotos: P. Guerra dos Santos

O Corredor Verde do Rio Leça.
Santo Tirso (nascente), Valongo, Maia e Matosinhos (foz) são os municípios atravessados por este pequeno rio português e que desde 2021 estão empenhados na sua despoluição bem como na recuperação e requalificação ambientais das suas águas, da flora e da fauna.
Abrangendo uma população de cerca de meio milhão de pessoas, estes 4 municípios englobados na Área Metropolitana do Porto estão agora a monitorizar as ainda existentes descargas directas para o rio, nomeadamente as das muitas indústrias que por aqui laboram, com o objectivo de as reduzir ou mesmo eliminar.
E de todos eles, é o município de Matosinhos que está na dianteira das acções no terreno, tendo já construído ou recuperado cerca de 11 km de caminhos, bem como diversas pontes e passadiços metálicos na parte do rio que contorna a vila de Leça do Balio, uma das freguesias do concelho. E com regularidade tem vindo a acrescentar mais quilómetros ao projecto, pelo que se estima que dentro de poucos anos se conclua a tão esperada ligação ao litoral e com ela a ligação à Ecovia 1 da Rede Nacional de Cicloturismo.

Estamos perante um passeio ladeado por bastante verde, com as margens do rio cravejadas de vegetação arbórea variada. Amieiros, Carvalhos Alvarinhos, Cedros e Plátanos imponentes podem ser avistados ao longo de todo o percurso cuja sombra sabe bem em dias de calor, bem como uma panóplia de ervas, arbustos e flores de todo o tipo. Aqui e ali alguns troncos de velhas árvores caídos no rio, o que lhe dá um ar um pouco mais naturalizado.
Não conte contudo com uma água cristalina. Ao longo de tudo o percurso ela é cinzenta clara, a fazer lembrar a água que sai de uma máquina de lavar roupa. Ainda assim praticamente sem odor.
Podem ainda ser observados ao longo do percurso 3 pontes medievais (uma delas de origem romana), o belíssimo Mosteiro de Leça do Balio e a sua Torre Medieval, as ruínas de diversas azenhas, algumas quedas de água, quintas e zonas agrícolas bem como até variados elementos para os adeptos de arqueologia industrial, que vão das chaminés em tijolo a ruínas de complexos industriais.
E apesar de estarmos num dos eixos mais industrializados do país, dada a cota baixa do rio em relação à sua envolvente cénica praticamente não avistamos nem as grandes vias rodoviárias que cercam esta zona nem os gigantescos armazéns industriais aqui existentes, incluindo os da famosa marca portuguesa de cerveja do norte do país.
Avistam-se ainda diversas linhas ferroviárias, tanto de comboios como do Metro do Porto.

Este revela-se assim um excelente passeio para toda a família, totalmente plano e com os diversos cruzamentos com estradas de tráfego automóvel a estarem bem sinalizados e em alguns casos com passadeiras sobre-elevadas (parabéns aos projectistas). É ainda, do ponto de vista didático, uma enorme lição de responsabilidade ambiental para crianças e adultos, tanto pela história passada do rio como como pela actual existência de uma incineradora e de um enorme aterro, fazendo-nos lembrar das gigantescas quantidades de lixo que diariamente produzimos e de quão mal isso faz ao ambiente.
Nota extremamente positiva a toda a equipa de decisores políticos e agentes técnicos por não terem morto uma única árvore, já que não existe um único passadiço em madeira! Todas as rampas de acesso às pontes bem como as próprias pontes (e são muitas) que compõem a ecovia são de estrutura metálica. E muito bem concebidas, bonitas e com piso antiderrapante. Top!

Para chegar à ecovia é simples: vá até à Estação de Comboios de Leça do Balio, que depois de vários anos encerrada ao serviço de passageiros voltou recentemente a ter comboios urbanos (o Passe Ferroviário Verde aqui não é válido) e daqui siga pelas passagens superiores ciclo-pedonais em direcção a nascente, que passam sobre a Linha de Leixões e a EN13, aqui convertida em via rápida. Descendo pelos bairros residenciais, com pouco tráfego automóvel, vai dar direitinho ao rio. Não tem que enganar. A ecovia contorna depois por norte e para poente, numa espécie de "U" invertido, a pequena elevação onde assenta a vila de Leça do Balio.
Leve água e alguma comida, pois assim pode fazer um belo piquenique à sombra de uma árvore. Não há cafés junto à ecovia em todo o seu percurso.
Aguarda-se que os restantes municípios de Santo Tirso, Valongo e Maia avancem com a sua parte para termos um belíssimo percurso em zona com características tanto rurais como peri-urbanas e industriais.
Nota do autor
Apesar de as entidades responsáveis por este projecto de recuperação ambiental terem-no baptizado com o nome de Corredor Verde (o que me parece ter resultado num flop em termos de marketing, promoção e atracção de visitantes) aqui chamei-lhe de Ecovia do Rio Leça, precisamente por considerar que a designação Ecovia é muito mais impactante junto da comunidade adepta das caminhadas e dos passeios em bicicleta e muito mais inclusiva em termos de promoção em rede ao nível nacional.
Podem ver mais informação sobre este projecto na sua página oficial.
Boas viagens em bicicleta.
P. Guerra dos Santos
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